
• • • Texto de João Zuccaratto
Fotos de E. J. Manzi • • •
O sucesso do agroturismo no Espírito Santo deve muito aos empreendedores do Município de Venda Nova do Imigrante. É da iniciativa isolada de cada um deles, mas com todos agregados aos mesmos objetivos — agregar valor à produção, valorizar a cultura local, resgatar tradições dos antepassados, fixar o homem no campo etc. —, que se alcança os resultados elogiados País afora. E neste universo a Família Busato tem lugar de destaque. Um trabalho que teve início ainda na década de 80 passada graças ao pioneirismo de dona Íria e aos controles do senhor João Busato, seu marido. Como praticamente todas as famílias da região, estavam diante de um dilema: as colheitas obtidas nos 27 hectares da propriedade não geravam recursos suficientes para uma vida com um mínimo de dignidade. Foi quando escutaram pela primeira vez as palavras que modificaram aquela situação: turismo rural, agroturismo. E deram início à “mágica” que inverteu o processo e hoje, além de resolver os problemas deles, ajudou a melhorar a situação de toda a comunidade. Um sucesso que o filho Lúcio Busato é o primeiro a creditar à dedicação e ao braço forte da mãe, dona Íria, já falecida. Ao chegar à propriedade, da estrada se vê que todo o terreno é ocupado: casas de moradia; instalações para atender visitantes; roças de café, milho, feijão e cana; estábulos para vacas leiteiras confinadas; pocilga; e um pequeno alambique. A oferta é diversificada e de qualidade ímpar: café moído na hora, fubá, açúcar mascavo, melado, cachaça, lingüiça, iogurte... Mas é em queijos que a marca Busato tem destaque. E eles são variados: parmesão, gruié (suíço), minas curado, molesão (massa crua), frescal light e incrementados: tomate seco, cheiro verde, pimenta etc. Lúcio Busato — ensino fundamental, 41 anos, nascido em Venda Nova — lembra que, já no início do envolvimento com o agroturismo, sua mãe deu importância ao aprendizado a partir das experiências dos outros. E foi assim que ele acumulou cerca de quatro mil horas de cursos, palestras, treinamentos e um enorme número de visitas técnicas promovidas por entidades como o Sesc-ES e pelo Sebrae-ES — uma grande quantidade de diplomas que atestam isto está exposta na parede da lojinha da família. Também fez diversas incursões pelo Brasil e esteve uma vez no exterior. Em Lajes e São Joaquim, Santa Catarina, conheceu sobre aproveitamento do leite. Curitiba, no Paraná, permitiu contato com descendentes de italianos. Proprietários em Tiradentes e Ouro Preto, Minas Gerais, ensinaram a lidar com embutidos. Junto a outros dois capixabas, através da Associação dos Criadores de Gado Leiteiro de Cachoeiro do Itapemirim, chegou ao Canadá, em 1996, por conta própria. Diz que esta viagem mudou completamente sua vida, “pois pude aprender como um povo consegue produzir alimentação para o ano todo em apenas seis meses de trabalho”. Uma lembrança interessante desse passeio foi que, em Toronto, conseguiu trocar reais por dólares ganhando ágio de 20%. É que os canadenses tinham curiosidade pela nova moeda brasileira e pagavam a mais para conseguir cédulas e guardar como recordação. Voltou de lá ciente da importância de se fazer as coisas com qualidade. E depois de vencida esta etapa, na comercialização dos queijos, deu início ao que o marketing chama de “fidelização dos clientes”. Criou um sistema em que a pessoa faz a compra e deixa o produto guardado lá mesmo, maturando e melhorando o sabor. Cada um recebe uma plaquinha com o nome do proprietário e a data em que vai voltar para pegar. Um sistema praticamente criado pelo jornalista Ronald Mansur, muito conhecido no interior do Estado devido à audiência do “Jornal do Campo”, programa exibido nas manhãs dos domingos pela TV Gazeta há quase 30 anos — pioneirismo que antecedeu o “Globo Rural”, da Rede Globo. Ele redigiu um texto que registra o nascimento desta “tradição”, exposto na porta do compartimento onde repousam as peças. As idéias principais do trabalho são reproduzidas a seguir: Em 1968, comprei queijos e os deixei guardados. Fiquei um bom tempo sem aparecer. Quando voltei, dona Íria me disse: — Mansur, o povo quer levar seus queijos. Sempre me perguntam por que não ofereço os queijos mais velhos. Falo que têm dono. É o Mansur, do “Jornal do Campo”. Respondi: — A senhora pode vender todos mas, por favor, coloque outros no lugar. Ela comentou que as pessoas queriam saber por que eu guardava os queijos. Expliquei: — Por dois motivos. Além de curados e mais saborosos, guardá-los me faz voltar. E o retorno me permite o convívio generoso com uma que considero como minha. Voltar é como chegar em casa. Depois disso, virou rotina. Era comprar, guardar e pegar, sempre deixando outro no lugar. E mais pessoas passaram a fazer o mesmo. O número cresceu e foi preciso organizar. Cada um recebeu um número. O meu é o 1. Hoje, somos mais de 200. Sempre que volto, tomo um cafezinho acompanhado de um pedaço de queijo. E sinto que dona Íria, lá do céu, nos olha e diz: — É, Mansur! O povo quer levar seus queijos. • • •
Um comentário:
Boa noite, tem como pedir queijos via correios, como proceders
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